Firmino Francisco de Matos, 89 anos, fala com lucidez do lugar em que vive há mais de 70 anos. Quando cheguei aqui em Cordoaria, só existiam três casinhas de palha e muito mato. Casado e pai de cinco filhos, seu Firmino é o morador mais antigo do local, que comemora hoje (20/01) cinco anos de reconhecimento como comunidade quilombola.
Pela primeira vez, a localidade, na zona rural de Camaçari, comemora o aniversário do título quilombola dado pela Fundação Palmares, em janeiro de 2005, durante a gestão do prefeito Luiz Caetano, que tem desenvolvido um trabalho significativo na área de igualdade e reparação racial.
A Fundação Palmares, órgão do governo federal, disponibiliza verbas para comunidades quilombolas de todo o país, a serem aplicadas nas áreas sociais, saúde, educacional, infra-estrutura, entre outras. O repasse é intermediado pelas prefeituras. No momento, Camaçari aguarda a titulação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para ter direito ao repasse.
De acordo com José Angelino de Santana, presidente da Associação dos Moradores de Cordoaria, no passado, o local foi utilizado como esconderijo de escravos fugitivos. Ele disse que graças ao trabalho realizado pela Prefeitura, a comunidade já avançou bastante. Atualmente, cerca de 300 famílias vivem na localidade.
A festa de aniversário teve início cedo, às 6h, com uma alvorada. Por volta das 10h, a população se reuniu na Associação de Moradores para apresentações de samba-de-roda com os grupos culturais do Município. Na seqüência, houve palestra sobre Orgulho em ser quilombola. As atividades continuaram durante a tarde, com apresentações e discussões sobre o assunto.
A Secretaria da Saúde (Sesau) realizou feira de saúde para conscientizar os moradores com atividades de saúde bucal e distribuição de kits, aferição de pressão arterial e de glicemia, vacinação, palestra sobre planejamento familiar e DST, mais a entrega de preservativos.
Para a presidente da Câmara de Vereadores de Camaçari, Luiza Maia, a data é muito importante e merece ser comemorada. Cordoaria é exemplo e motivo de orgulho para Camaçari e a Bahia. Ela disse que o Município é um dos mais empenhados nas questões de reparação racial, sendo um dos primeiros no país a implantar o Estatuto da Igualdade Racial.
Maria Cristina Santos é professora e moradora da localidade. Para ela, o mais importante é o reconhecimento cultural e de identidade que a comunidade está recebendo. A coordenadora de Promoção a Igualdade Racial de Camaçari, Ivonete Mota, disse que os moradores precisam e devem lutar pelos direitos e ter orgulho de serem uma comunidade quilombola.